Festa de Santo António
O contexto histórico
Santo António de
Lisboa, viveu na primeira metade do século XIII, em plena Idade Média. Desenvolviam-se as cidades extramuros
(os burgos) e uma nova classe social de artesãos, mercadores,
banqueiros, notários e médicos ascendia na sociedade e no poder: a burguesia.
Na Europa formavam-se as
nacionalidades sob a égide do Sacro-Império e os exércitos
dos anglos, francos e germanos, dominados pelo
espírito da cruzada, combatiam os
turcos muçulmanos no Oriente
(na Terra Santa) e os berberes muçulmanos no
Ocidente (na Península Ibérica).
Em Portugal, três reis
sucederam-se no trono: primeiro Sancho I, filho de D. Afonso Henriques, empenhado em alargar
o território e proceder ao povoamento do país que surgira sob o governo do seu
pai; depois Afonso II neto de D. Afonso Henriques, que se envolveu em lutas civis contra
as suas irmãs, o que motivou a perda dos territórios já conquistados aos mouros
a sul do Tejo, e finalmente Sancho II, filho deste último,
grande conquistador, que se envolveu em questões com a Igreja Católica e com o
papado e foiexcomungado e deposto
pelo Papa Inocêncio IV a favor de seu irmão Afonso III, conde de Bolonha.
Biografia Primeiros anos
Igreja de Santo António, em Lisboa, erguida
sobre a casa onde segundo a tradição nasceu o santo português.
Santo António nasceu
em Lisboa em data incerta, numa casa, assim se pensa,
próxima da Sé, às portas da cidade,
no local onde posteriormente se ergueu a igreja sob sua invocação. A tradição
indica 15 de agosto de 1195, mas não há documento fidedigno que confirme esta
data. Também foi proposto o ano de 1191, mas, segundo um seu biógrafo, o padre
Fernando Lopes, as contradições em sua cronologia só se resolveriam se ele
tivesse nascido em torno de 1188. Tampouco se sabe com certeza quem foram seus
pais. Nenhuma das biografias primitivas os citam, e somente no século XIV, a
partir de tradições orais, é que se começou a atribuir ao pai o nome de Martim
ou Martinho de Bulhões, e à mãe, o de Maria Teresa Taveira.2 4 5 Fixando-se esses
nomes na memória popular, e com a crescente fama do santo, não custou a
biógrafos tardios atribuírem também aos seus pais uma dignidade superior. Do
pai foi dito ser descendente do celebrado Godofredo de Bulhões, comandante da I Cruzada, e da mãe, que descendia de Fruela I, rei de Astúrias, mas tal parentesco
nunca pôde ser comprovado. A forma de seu nome de batismo é igualmente obscura,
pode ter sido Fernando Martins ou Fernando de Bulhões.2 6 7
Fez os primeiros
estudos na Igreja de Santa Maria Maior (hoje Sé de
Lisboa), sob a direção dos cónegos da Ordem dos Regrantes de Santo Agostinho. Como era a prática
da ordem, deve ter recebido instrução no currículo das artes liberais do trivium e do quadrivium, o que certamente plasmou seu
caráter intelectual. Ingressando ainda um adolescente como noviço da mesma Ordem,
no Mosteiro de São Vicente de Fora, iniciou os estudos
para sua formação religiosa. A biblioteca de São Vicente de Fora era afamada pela
sua rica coleção de manuscritos sobre as ciências naturais, em especial a medicina, o que pode
explicar as constantes referências científicas em seus sermões.8 9
Poucos anos depois
pediu permissão para ser transferido para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, a fim de aperfeiçoar
sua formação e evitar distrações profanas, já que era constantemente visitado
por amigos e parentes. Coimbra era na época o
centro intelectual de Portugal, e ali se deve ter envolvido profundamente no
estudo das Escrituras e nos textos
dos Padres da Igreja. Nesta época entrou
em contato com os primeiros missionários franciscanos, chegados em Portugal
em 1217, e que estavam a caminho doMarrocos para evangelizar
os mouros. Sua pregação do Evangelho no espírito de
simplicidade, idealismo e fraternidade franciscana, e sua determinação
missionária, devem ter tocado o sentimento de Fernando. Entretanto, uma
impressão ainda mais forte ocorreu quando os corpos desses frades, mortos em
sua missão, voltaram a Coimbra, onde foram honrados como mártires. Autorizado a
juntar-se a outros franciscanos que tinham um eremitério nos Olivais, sob a
invocação de Santo António do Deserto, mudou seu nome para
António e iniciou sua própria missão em busca do martírio.10
Aparição do Menino Jesus ao santo
A sua missão
Por essa altura,
decidiu deslocar-se ele também a Marrocos, mas, lá chegando, foi acometido por
grave doença, sendo persuadido a retornar. Fê-lo desalentado, já que não havia
proferido um único sermão, não convertera nenhum mouro, nem alcançara a glória
do martírio pela fé. No regresso, uma forte tempestade arrastou o barco para as
costas da Sicília, onde encontrou
antigos companheiros. Ali se quedou até a primavera de 1221, dirigindo-se com
eles então para Assis a fim de
participarem do Capítulo da Ordem - o
último que seria feito com a presença do fundador11 . Em Assis
encontrou-se com São Francisco de Assis e os seus primeiros seguidores, um
evento de grande importância em sua carreira. Sendo designado para um
eremitério em Montepaolo, na província da Romagna, ali passou cerca de quinze meses em
intensas meditações e árduas disciplinas.12
Pouco depois aconteceu
uma ordenação de frades em Forlì, quando deixou o isolamento e para lá se
dirigiu. Até então os franciscanos não sabiam de sua sólida formação, mas
faltando o pregador para a cerimónia, e não havendo nenhum frade preparado para
tal, o provincial solicitou a António que falasse o que quer que o Espírito Santo o inspirasse. Protestou, mas
obedeceu, e dissertando para os franciscanos e dominicanos lá reunidos de
forma fluente e admirável, para a surpresa de todos, foi de imediato destinado
pelo provincial à evangelização e difusão da doutrina pela Lombardia. Entretanto, a
prática franciscana desencorajava o estudo erudito, mas em novembro de 1223 o
papa Honório III sancionou a
forma final da Regra da Ordem Franciscana, onde uma formação mais aprimorada se
tornou autorizada, desde que submissa ao trabalho manual, à prece e à vida
espiritual. Recebendo a aprovação para a tarefa pastoral do próprio Francisco,
fixou-se então em Bolonha, onde se dedicou ao
ensino da teologia na universidade
e à pregação. Deslocando-se em seguida para a França, ensinou nas universidades
de Toulouse e Montpellier, passando também
por Limoges.13 14
Em 1226 assistiu ao
Capítulo de Arles, e em outubro do
mesmo ano, após a morte de Francisco, serviu como enviado da Ordem ao
papa Gregório IX, para apresentar-lhe
a Regra da Ordem. Em 1227 foi
indicado ministro provincial da Romagna15 e passou os três
anos seguintes pregando na região, incluindo Pádua, para audiências cada
vez maiores. Nesse período colocou por escrito diversos sermões.
Participou do Capítulo
Geral, em Assis, em 1230, onde também assistiu
no translado dos restos
mortais de São Francisco de Assis, da Igreja de São Jorge para a nova Basílica16 .
Nesse mesmo ano, de
1230, solicitou ao papa dispensa de suas funções como provincial para
dedicar-se à pregação, reservando algum tempo para a contemplação e prece no
mosteiro que havia fundado em Pádua.
Sempre trabalhando
pelos necessitados, envolveu-se também em questões políticas, a exemplo de sua
viagem a Verona para pedir a libertação de prisioneiros guelfos feitos pelo
tirano gibelino Ezzelino,
e em 1231 persuadiu a municipalidade de Pádua a elaborar uma lei que impedia a
prisão por dívidas se houvesse a possibilidade de compensação de outras formas.17
Tumba e altar do santo na sua basílica de Pádua
Pouco depois da Páscoa de 1231 sentiu-se
mal, declarou-se hidropisia e ele deixou
Pádua para dirigir-se ao eremitério de Camposanpiero, nos arredores da cidade.
Aí, há a versão que terá sido hospedado pelo conde Tiso, devido o estado de
saúde precário18 , ou que seus
companheiros ergueram-lhe uma cabana no alto de uma árvore, onde permaneceu
alguns dias. Percebendo que a morte estava próxima, pediu para ser levado de
volta a Pádua, mas apenas tendo alcançado o convento das clarissas de Arcella, subúrbio de Pádua, ali faleceu, em 13
de junho de 1231. As clarissas reclamaram seu corpo, mas a multidão acabou
sabendo de seu passamento, tomou-o e o levou para ser sepultado na Igreja de
Nossa Senhora. Sua fama de santidade era tamanha que foi canonizado logo no ano
seguinte, em 30 de maio, pelo papa Gregório IX. Os seus restos mortais repousam
desde 1263 na Basílica de Santo António de Pádua, construída em sua
memória logo após sua canonização. Quando sua tumba foi aberta para iniciar o
processo de translado, sua língua foi encontrada incorrupta, e São Boaventura, presente no ato, disse que o milagre
era prova de que sua pregação era inspirada por Deus. E incorrupta está até
hoje, em exposição na Capela das Relíquias da Basílica. Foi proclamado Doutor da Igreja pelo papa Pio XII em 16 de janeiro
de 1946 e é comemorado no dia 13 de junho.19
Portugal
Em Portugal, Santo
António é muito venerado na cidade
de Lisboa e o seu dia, 13 de Junho, é feriado municipal.
As festas em honra de Santo António
começam logo na noite do dia 12. Todos os anos a cidade organiza as marchas
populares, grande desfile alegórico que desce a Avenida da
Liberdade (principal artéria da cidade), no qual competem os
diferentes bairros.
Um grande fogo de artifício costuma encerrar
o desfile. Os rapazes compram um manjerico (planta aromática) num pequeno vaso,
para oferecer às namoradas, as quais trazem bandeirinhas com uma quadra
popular, por vezes brejeira ou jocosa. A festa dura toda a noite e, um pouco
por toda a cidade, há arraiais populares, locais de animação engalanados onde
se comem sardinhas assadas na brasa, febras de porco (fêveras), caldo verde (uma sopa feita
com couve galega, cortada aos fiapos, o que lhe confere uma cor esverdeada) e
se bebevinho tinto. Ouve-se música e
dança-se até de madrugada, sobretudo no antigo e muito típicoBairro de Alfama.
Santo António é o santo
casamenteiro, por isso a Câmara
Municipal de Lisboa costuma organizar, na Sé Patriarcal de Lisboa, o casamento de
jovens noivos de origem modesta, todos os anos no dia 13 de Junho. São
conhecidos por 'noivos de Santo António', recebem ofertas do município e também de diversas empresas,
como forma de auxiliar a nova família.
Nota portuguesa de 20 escudos.
Santo António pregando
aos peixes, em Guimarães.





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